Day1 | Ana Paula Padrão: o impossível é apenas uma opinião

Jesielly

Os ‘nãos’ que Ana Paula recebeu ao longo da vida tiveram um efeito bumerangue: em vez de paralisá-la, foram impulso para que ela chegasse até aqui. No palco do Day1, a empreendedora compartilha essa história!

Quando Ana Paula Padrão estava de saída da Record, encerrando um ciclo de 27 anos em telejornais, um colega da emissora perguntou: “Por que você demorou tanto para lançar seu próprio negócio?”. Ana estava saindo, naquele momento, para se dedicar à sua mais nova empresa: a Tempo de Mulher. O que ele não sabia é que aquele não era o primeiro negócio de Ana Paula. Muito menos o último.

Antes de se afirmar como empreendedora, Ana já enfrentou muitos ‘nãos’ em sua vida. Fez das negativas, impulso para viver a própria jornada. E com ele, foi tão longe, mas tão longe, que chegou até aqui, no palco do Day1 e à frente do MasterChef, da Tempo de Você, da agência Touareg e da Escola de Você.

Para entender melhor essa história, é preciso voltar no tempo. Vamos à Brasília de 1965.

A vida pela janela

A capital do país era um grande canteiro de obras, o céu uma imensidão azul. Ana passava sua infância olhando a vida pela janela. No prédio de seis andares onde morava com seus pais, via os terrenos baldios ao redor serem ocupados, de tempos em tempos, pelos ciganos.

Eles subiam suas tendas coloridas, cantavam suas músicas e depois partiam. Ana queria partir com eles. Conhecer novas pessoas, explorar novos lugares e viver suas próprias aventuras. Foi por isso que decidiu fazer jornalismo. Aquele seria seu ticket de saída para o mundo.

Logo na faculdade, participou de um processo seletivo de estágio na TV Bandeirantes. Levou sua fita VHS com alguns vídeos que já tinha produzido e, alguns dias depois, foi chamada para conversar. A entrevistadora foi direto ao ponto: “Menina, desista da TV. Você nunca será repórter de televisão. Você não foi feita para o vídeo. Estou dizendo isso para o seu próprio bem!”. Aquele foi o primeiro ‘não’ que Ana Paula recebeu, enquanto jornalista.

Saiu de lá com a fita VHS embaixo do braço, mas nenhuma intenção de desistir. Cinco meses mais tarde, recebeu um convite para trabalhar na emissora afiliada à TV Globo em Brasília. Se ela não era feita para a TV, era na TV que iria trabalhar.

Ana Paula tinha apenas 21 anos quando entrou na Globo, no auge dos anos 1980. Para sobreviver como repórter num ambiente onde todas as lideranças eram masculinas, cobrindo notícias de Economia, precisou criar uma armadura própria: tornou-se uma mulher-ombreira. As ombreiras eram mais do que um item da moda. Eram uma forma de alargar os ombros das mulheres para encararem de frente um ambiente de trabalho hostil.

Apesar de usá-las diariamente, a aparente fragilidade de Ana ainda era um obstáculo para o seu desejo de cobrir temas mais difíceis, como guerras e desastres. Talvez por isso, ela tenha se apaixonado por estudar a Guerra do Afeganistão. Nas horas vagas, dedicava-se a entender o mapa da região, os costumes, as etnias, os conflitos locais e os ângulos nada óbvios que renderiam reportagens inéditas sobre o país.

O Day1

Aos 33 anos, já trabalhava como correspondente internacional para a TV Globo em Londres. Certa noite, saiu para jantar com os colegas de redação. Em meio a uma conversa informal, um dos seus colegas perguntou que reportagem ela gostaria de fazer. Para ela, a resposta era clara: “Quero entrar no Afeganistão”.

A mesa ficou em silêncio; os colegas começaram a trocar olhares, e alguns risinhos escaparam. Quando ele percebeu que Ana estava falando sério, disse: “Uma mulher no Afeganistão? Os talibãs nunca te darão um visto. Você não vai conseguir. É muito perigoso.”

Na hora, Ana Paula sentiu vergonha. Por ter se exposto daquele jeito, em uma mesa cheia de homens. Em casa, mais tarde, sentiu raiva, muita raiva. Como eles podiam desencorajar alguém dessa maneira?

A intensidade daquela noite produziu o efeito inverso nas convicções de Ana: ela entraria, sim, no Afeganistão. E sairia inteira. Com várias imagens inéditas na bagagem.

Aquele foi o seu Day1. A partir daquele dia, passou a encarar cada não que ouvia como grandes impulsos para perseguir o que sonhava. Para cada porta fechada, buscava alternativas e novos caminhos que transformassem o não em talvez e — quem sabe? — em sim.

Quando foi trabalhar como correspondente em Nova York, surgiu a oportunidade. Ela já tinha o visto para entrar no Afeganistão e, ao seu lado, uma equipe formada por uma produtora e um cinegrafista que a acompanhariam nessa jornada. Os documentos que assinou já davam sinais do que enfrentaria no país: se fizesse algo diferente do combinado, poderia ter as mãos ou os pés amputados. Não havia margem para erro. Apesar dos avisos, Ana Paula partiu para o Afeganistão. E voltou com imagens inéditas, mostrando, pela primeira vez no Brasil, a situação das mulheres naquele país.

Desvendando as mulheres

Essa viagem despertou nela uma forte vontade de desvendar as mulheres — com ou sem burca. Queria trabalhar com elas e entendê-las melhor. Seus dramas e desafios. O que tinham em comum. Essa vontade se materializou em projeto quando Ana assumiu a bancada do Jornal da Globo, produzindo uma série de reportagens especiais sobre o universo feminino.

Aos poucos, Ana Paula foi percebendo que os dramas das mulheres com quem conversava também eram os dela.

Um dia, no fim da tarde, redação lotada, toca seu telefone. “Paula? É o Sílvio!”. Silvio Santos estava do outro lado da linha. “Eu queria me esconder embaixo da mesa.”, ela conta. A conversa durou menos de um minuto, a tempo de Ana Paula aceitar o convite para um conversa e desligar o mais rápido possível, em choque com a ligação.

A proposta era bem direta: Silvio Santos queria que ela reestruturasse o departamento de jornalismo do SBT, assumindo a bancada do SBT Brasil. Ela pensou e decidiu aceitar o convite. Nessa época, lançou também um novo formato de jornalismo: reportagens especiais com uma hora de duração em um programa chamado SBT Realidade. Mas dessa vez, Ana Paula fez uma proposta diferente: ela faria a coprodução dos programas com a própria equipe, de forma independente. Assim nasceu sua primeira empresa: a agência de conteúdo Touareg.

Durante o primeiro ano da empresa, ela tinha apenas um cliente: o SBT. Depois, aos poucos, foi descobrindo um nicho de mercado que poderia atender: empresas com histórias verdadeiras para contar e conceitos difíceis de explicar.

Quando acabou de vez seu contrato com o SBT, Ana Paula Padrão tinha duas certezas: queria aprofundar seus estudos sobre a mulher brasileira e não queria, definitivamente, continuar como apresentadora de telejornal. Na semana seguinte a essa decisão, ela recebeu três ligações. Todas elas de outras emissoras oferecendo um cargo de apresentadora de telejornal. Parece que o mercado não estava entendendo o que ela dizia.

Decidiu, então, fechar um contrato de quatro anos para trabalhar na Record. Ela seria apresentadora, mas não assumiria nenhuma função editorial. Dessa forma, teria mais tempo para focar na Touareg e abrir sua segunda empresa: a Tempo de Mulher, dedicada a estudar o público feminino. Durante esse período, Ana Paula mergulhou de vez na questão que, há tempos, despertava sua curiosidade. Aceitava todo tipo de convite para participar de eventos e debates de, por e para mulheres. Queria entender, genuinamente, o que passava pela cabeça delas.

A pergunta que ninguém sabia responder

Em um desses encontros, conheceu sua futura sócia: a também jornalista Natalia Leite. O que as duas empreendedores observaram, em alguns dos seminários organizados pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), era um desafio para o qual ninguém tinha resposta. Existia uma lacuna entre o número de mulheres qualificadas por programas de capacitação e aquelas que, de fato, entravam no mercado de trabalho. Ninguém entendia porque isso acontecia. Mas Ana Paula tinha uma hipótese. O que faltava a essas mulheres era autoestima.

Era preciso, porém, provar essa tese para o BID. As duas, juntas, passaram a criar vídeos que simulavam situações reais do cotidiano, a partir de conceitos da filosofia, psicologia e sociologia, e que ajudassem essas mulheres a superar desafios pessoais. Em paralelo a essas produções, passaram a pesquisar o efeito que esses vídeos teriam na empregabilidade das mulheres. E o resultado apareceu: elas tinham, enfim, encontrado a resposta.

Assim nasceu a Escola de Você, um portal de ensino à distância que ajuda mulheres a evoluir em suas vidas pessoais e profissionais. De 2014 para cá, quase 400 mil mulheres já foram impactadas pelos cursos, formando comunidades por todo país das chamadas “escoletes”. Apesar do desafio com tecnologia que toda startup enfrenta nos primeiros anos de vida, Ana Paula está confiante de que elas já têm o que é preciso para lançar o modelo Freemium da plataforma ainda esse ano.

Quem conhece a fundo a história de Ana Paula Padrão como jornalista e empreendedora, percebe que ela vive uma jornada dupla: busca empoderar mulheres de todos os cantos do país, ao mesmo tempo em que entende melhor seus próprios anseios e equilibra seus pratos de apresentadora, empreendedora e mulher. Assim coloca em ação seu potencial multiplicador: a capacidade de realizar seus sonhos — e ajudar milhares de mulheres pelo caminho.

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